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O PRAZER EM SER ADMINISTRADOR – PARTE 1

Levava uma vida sossegada. Gostava de sombra e água fresca. Meu Deus quanto tempo eu passei, sem saber. Foi quando meu pai me disse filha. Você é a ovelha negra da família. Agora é hora de você assumir e sumir. (Ovelha Negra, Rita Lee)


O objetivo do texto é o de refletir sobre o prazer em ser administrador. Assim, concebemos o texto em duas partes. A parte 1, refletimos sobre o prazer em si e o prazer em conhecer e refinar conhecimentos sobre administração. Na parte 2, refletimos sobre o prazer do administrador ao inventar-se e refinar três competências de gestão.


A palavra prazer nos remete a realização de desejo e necessidade, compreende o que nos faz sentir bem. O epicurismo (*1) enfatiza que uma das maneiras de alcançar a tão sonhada felicidade é por meio do prazer, não é o prazer apenas por prazer, mas o prazer que nos traz serenidade de espírito e lucidez.


Para Luc Ferry (*2), o que nos livra da angústia na existência é a lucidez, o amor, a liberdade e o conhecimento. Assim, é fundamental entender o que nos faz feliz na lucidez, o que nos encanta sem esconder o sentido passageiro da vida. Para tanto, sete verbos nos servirão de fio condutor para o que nos faz feliz na lucidez, na jornada da vida: “amar, admirar, emancipar-se, ampliar os horizontes, aprender e criar, e agir”.


Inclino-me sobre o prazer de pensar, praticar, evoluir e refinar os conhecimentos de administração, entendida como tecnologia cognitiva, social e gestão, isto é, um conjunto de conhecimentos e práticas focados na antecipação, diferenciação, execução e práticas de gestão para a obtenção de resultados nas organizações.


Em suma, administração abraça aspectos técnico/prático-mental-social, ancorada na ciência, na arte da visão e na habilidade prática dos administradores na condução da jornada, conforme figura abaixo. (adaptado de Mintzberg *3).





A administração certamente interage e aplica a CIÊNCIA, como a política, sociologia, antropologia, psicologia e ferramentas como BSC, análise SWOT, ciclo PDCA, Startup Enxuta, planejamento por Cenários e outras.


O conhecimento da ciência contribui para analisar e entender que a administração está enraizada no contexto, que a empresa opera mediante modelo mental, jogo político e social. Assim, será ineficaz construir planos sem conhecer a cultura de execução, as barreiras políticas, de mercado e de motivação das equipes da empresa. É inútil construir métricas que não estejam enraizadas no modelo mental dos administradores.


No caso da ARTE DA VISÃO, a arte significa atividade de criação, mexe com a forma de imaginar e de entender o mundo. A visão significa pensar para trás, para os lados e para frente; raciocinar em termos de futuro e suas decorrências e oportunidades. Invoca a capacidade antecipatória e a percepção das consequências de decisões e ações ao longo do tempo.


Em época de transformação, a capacidade de perceber o contexto, antecipar-se às ocorrências e criar oportunidades é fundamental ao êxito profissional e da empresa. Daí a necessidade em ser um administrador ativo, sempre procurando novas ideias, oportunidades ou fontes de inovação. No entanto, às vezes atribuímos peso maior às perdas do que aos ganhos. É preciso refletir sobre o extremo medo à perda, o que faz rejeitar todas as oportunidades favoráveis.


Com relação a HABILIDADE PRÁTICA, ela está enraizada na experiência e nas escolhas. Aliás, o que somos é, em grande medida, um acúmulo de práticas e escolhas que fazemos durante nossas vidas. Como administrador construímos história da nossa vida e da empresa ao fazer escolhas na criação de identidade, definir um propósito e gerar significado. Somos ser de linguagem e ação. Nossa tarefa como administrador, na prática, é moldar um negócio, influenciar seu destino e construir um futuro no mundo das dúvidas e incertezas.


Na habilidade prática desenvolvemos hábitos. Contudo, a reflexão sobre a prática e mudança precisa estar ligada à condição em entender o modelo mental existente, a formação do hábito, e a percepção de uma realidade diferente, o movimento.


Resumindo, o prazer em evoluir, praticar e refinar conhecimentos de administração e a responsabilidade em ser administrador geram uma certa cumplicidade com a lucidez. A escolha pode ajudar a elevar-se no mundo, inventar a si mesmo e forjar um futuro. Minha busca, meu sabor e prazer foram identificar a importância da consciência lúcida, o que me encanta sem ocultar o sentido do efêmero da vida.


Na parte 2, a abordagem será sobre o prazer em aprender, evoluir e refinar três competências essenciais do administrador no cenário contemporâneo. Nesse sentido, as competências do administrador precisam combinar o vértice da ciência, deliberado e analítico, o vértice da arte da visão, ideias e visões e da habilidade prática, orientada no resultado.


*1 - Epicuro. Cartas e Máximas Principais. SP: Companhia da Letras, 2019. *2 - Ferry, Luc. 7 Maneiras de Ser Feliz. Objetiva, 2018. *3 - Mintzberg, Henry. Managing. Porto Alegre: Bookman, 2010.


Rogério Antonio Monteiro

- CEO da Innovare Estratégia. Site www.innovareestrategia.com

- Administrador – CRA 1013, Doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo – PUC-SP.


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