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OS CONHECIMENTOS DE ADMINISTRAÇÃO TÊM POUCA IMPORTÂNCIA PARA OS EMPRESÁRIOS

O objetivo do texto é defender a tese de que os conhecimentos de Administração têm pouca importância e utilidade para os empresários em suas atividades nas empresas. Sobre a relevância do tema, o administrador precisa entender a mente dos empresários e também entender e estruturar sua cabeça neste processo.

Por conseguinte, a defesa da tese ancora-se em duas premissas básicas.

PREMISSA 1: SOBRE O QUE É ADMINISTRAÇÃO.

A Administração é um conjunto de conhecimentos sistematizados, teóricos e práticos, ancorado em conceitos, métodos, ferramentas e práticas com o objetivo de amplificar o pensamento e a ação humana nas empresas. Tem como foco o entendimento da realidade das empresas e a possibilidade de transformá-la em resultados mediante antecipação, aprendizado, formulação, projetização, diferenciação, execução e monitoramento das práticas de gestão.

A Administração é acolhida por vários campos científicos como economia, política, comportamentos, estudos de liderança, semiótica (linguagem), arte e outros, possibilitando ampliar sua musculatura para dar suporte à análise, formulação e ação humana.

Ao efetivar iniciativas que gere resultados, precisa-se sempre de Administração, a fim de explicar o que ocorreu no passado, no presente e que nos permita direcionar a caminhada para o futuro.

A Administração se fortalece com o conhecimento e a combinação da estratégia, caracterizando o que se pode chamar de Administração Estratégica, da qual os conhecimentos potenciam as ações das pessoas, sobretudo dos empresários e administradores que vivem aflitos por soluções que lhes permitam conhecer comportamentos, projetar cenários, repensar produtos, surpreender clientes, conduzir a jornada, ser diferente na multidão, buscar singularidade, valor, lucro, bem-estar e sustentabilidade.

 

A Administração Estratégica integra quatro momentos cruciais para a jornada da empresa: o momento explicativo, o momento de valor-projetização, o momento de alinhamento-negociação e o momento execução-aprendizagem, conforme descrição a seguir:

 

O momento explicativo busca compreender a realidade da empresa e do seu contexto, identificar problemas, oportunidades e ameaças relacionados à demanda de clientes e mercados, crenças e sentimentos de lideranças e sintomas críticos que bloqueiam a evolução.

 

O momento explicativo é fundamental para pensar e criar o futuro, significa a mediação entre o conhecimento e a ação, acumular conhecimentos antes de agir.

 

O momento de valor-projetização trata do modo como se formulam os projetos para dar respostas de ação aos problemas, desafios e desejos da empresa no seu contexto. Neste momento, é importante ter mapa estratégico ou cognitivo para a organização de ideias, temas estratégicos e objetivos. O mapa ajuda na descrição da estratégia, facilita a definição, construção e gerenciamento dos objetivos e indicadores. Ajuda atribuir compromissos e responsabilidades relacionados aos projetos e resultados.

 

O momento de alinhamento-negociação trata do modo de examinar a viabilidade política do projeto e do processo de construção de viabilidade para que ocorra a execução, que em parte é cooperativa e em parte conflitiva.

 

O alinhamento e negociação significam administrar o dilema das ideias, dos egos e ressentimentos, a fim de formar consenso para não travar a execução. A liderança precisa garantir que os projetos se mantenham na pauta e que não sejam destruídos pelo dia a dia.

 

O momento execução-aprendizagem, envolve a ação com base no projeto, cujo objetivo é vincular a estratégia às operações, traduzir a estratégia em projetos operacionais realizáveis. Tem a finalidade de criar um processo contínuo, entre os três momentos anteriores e a ação diária. Neste contexto, trata-se também de aprimorar o projeto de acordo com as circunstâncias do momento da ação e do detalhe operacional que a prática exige.

 

PREMISSA 2: SOBRE A PESQUISA EM ADMINISTRAÇÃO: DELIMITAÇÃO E CONTEXTO.

A pesquisa com empresários e empresas está delimitada ao contexto de médias empresas em crise de sobrevivência ou demanda de crescimento. A modalidade de pesquisa usada é a pesquisa-ação, um tipo de pesquisa social com base empírica, que é concebida e realizada para solução de problemas, na qual os pesquisadores e os participantes representativos da situação ou dos problemas estão elvolvidos no processo.

Embora a pesquisa esteja limitada a 15 empresas, precisa-se ter o cuidado para não generalizar seus resultados. No entanto, há no mercado inúmeras empresas representativas na situação da pesquisa em foco.

AS CONSEQUÊNCIAS DA BAIXA IMPORTÂNCIA DOS CONHECIMENTOS DE ADMINISTRAÇÃO PARA OS EMPRESÁRIOS

Os dados abaixo da pesquisa sobre empresários e o irrelevante conhecimento de Administração, demonstram que médias empresas têm sintomas críticos como baixa lucratividade, decisões amparadas em emoções, carência de informações para decisão e negligência em relação a jornada para o futuro. Detalha-se os sintomas críticos:

- Tomada de decisões baseada nas influências das emoções: intuição, ego e ambição.

- Desconhecimento de métricas, sobretudo do índice de lucratividade e fluxo de caixa.

- Pendências de curto prazo obstrui as tendências ou construção de estratégias, isto é, liderança baseada em ações por impulso e fragilidade das ações estratégicas.

- Carência de sistemas de informação para suporte às decisões. Em muitos casos apenas 20% do sistema é utilizado.

- Sintoma de baixa lucratividade e baixa diferenciação.

- Fragilidade no alinhamento entre as equipes e no propósito da empresa.

- Baixa maturidade do pensamento estratégico para a produtividade de receitas, de custos e do crescimento lucrativo.

AS CAUSAS DA BAIXA IMPORTÂNCIA DOS CONHECIMENTOS DE ADMINISTRAÇÃO PARA OS EMPRESÁRIOS

Com base na pesquisa e experiência de intervenção expõe-se três causas centrais do baixo conhecimento em Administração nas atividades empresariais.

- Processo decisório intensamente emocional.

Sabe-se o quanto a racionalidade é limitada, porém, nas empresas pesquisadas o processo de tomada de decisão ou escolha é em torno de 75% baseado em sentimentos, intuição, egos e julgamentos precipitados. Isto é caraterizado por Kahneman como Sistema 1, um modo de pensamento que opera de forma rápida, automática e intuitiva, influenciada por julgamentos comandados pela emoção. Nesse sentido, a mente do empresário se assemelha a uma máquina para tirar conclusões precipitadas.

A maioria dos empresários, na condução no processo decisório, negligenciam ou desconhecem o que Kahneman denomina de Sistema 2, o modo de pensamento racional que demanda informação para analisar a empresa e o contexto, que exige concentração nas conversações, que opera com uma série ordenada de passos para execução de atividades. No modo racional, o processo decisório precisa-se ser apoiado por demonstrativos, orçamentos, mapas cognitivos, conversação embasada e outros.

A pesquisa nos mostra o quanto a crença do ser humano racional é ilusória. Os empresários estão expostos a influências emocionais que podem minar a capacidade de julgar e agir com clareza.

- Fragilidade dos conhecimentos e práticas da Administração Estratégica.

Embora haja vários administradores que participam das equipes nas empresas pesquisadas, porém, uma parte está aprisionada na sua especialidade e precisam fazer esforço para se libertar do conforto cognitivo.

O fato é que o empresário vive encurralado entre pendências e tendências. No caso da pendência, empresários e lideranças são prisioneiros da rotina e da fragmentação, preocupados com o boleto do dia, da pressão do banco e fornecedores, do conflito de ontem e do estresse do amanhã.

Os empresários são fortemente orientados para a ação, não tendo tempo para as tendências, o   pensamento e processo da estratégia. É preciso viver os momentos explicativos, projetização, alinhamento, execução e aprendizagem da estratégia. Um grande risco para a empresa é ter fragilidade na postura de não perceber oportunidades transformadoras.

- Necessidade de melhoria no processo de condução da estratégia: fragilidade na conversação estratégica.

A conversação é uma ferramenta imprescindível para alinhar a percepção-visão, pensamento, negociação e ação, tem o foco em comunicar, avaliar e criticar a jornada da estratégia.

No processo de condução da estratégia nas empresas, a conversação estratégica quando é embasada por informações e maturidade nas emoções, ganha relevância pois as diferentes concepções e cognições estratégicas podem ser comparadas pelas equipes, desafiadas e negociadas.

No entanto, as empresas pesquisadas não têm o hábito da conversação, não há espaço nas equipes para que haja contribuição das pessoas. Isto fragiliza o processo de formulação e execução de estratégias, fragiliza as motivações das equipes para a construção do futuro, pois a caminhada é determinada apenas pelo empresário. A sua ideia que manda. Isto é gerador de desmotivação e conflitos, sobretudo “quando o mar não está para peixe”.


CONCLUSÃO

Ora, busco aqui interpretar a realidade dos empresários e das empresas, ancorada na modalidade da pesquisa-ação e experiência. Traduzo a realidade dos empresários a partir da tese da pouca importância que é dada a Administração nas suas atividades. Inegável que a realidade que traduzo tem uma perspectiva extrema, pois lido com empresas estressadas.

Construí consequências e causas referente à pouca importância da administração ao considerar a baixa lucratividade, maturidade do pensamento estratégico, pensar crenças e emoções no processo decisório.

Evidente, ser administrador não é uma tarefa fácil ao lidar na empresa com desafios de ego, crenças, julgamentos precipitados, exigências de negociação e cobranças de resultados. Porém, a relevância do administrador na sociedade é significativa e imprescindível na condução da jornada estratégica da empresa no tempo.

A complexidade é uma característica do mundo atual, que está mais múltiplo, imprevisível e congestionado. Portanto, para lidar com este mundo ser especialista já não basta, limita a ação. É preciso que o administrador integre de maneira sistêmica e complementar os conhecimentos de administração para interpretar a realidade e agir para mudá-la.

Tenho a crença de que o administrador amplia a sua ação no mundo ao buscar conhecimentos e autoconhecimento com base em:

- No entendimento da estratégia com os momentos explicativo, valor-projetização, alinhamento-negociação e execução-aprendizagem.

- Pensar a empresa mediante temas como razão (cálculos, projetos e métricas), sentimentos (crenças, poder e emoções) e aprendizado (prática atual e estado desejado).

 

REFERÊNCIAS

 

- KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar - duas formas de pensar. RJ: Objetiva, 2012.

- Van Der HEIJDEN, Kees. Planejamento por cenários: a arte da conversação estratégica. Porto Alegre: Bookman, 2009.

- HOLIDAY, Ryan. O ego é seu inimigo. RJ: Intrínseca, 2017.

- LONGO, Walter. Vítimas do critério. RJ: Alta Books, 2021.


Rogério Antonio Monteiro

Administrador, CRA 1310, Doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo.

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