O artigo denominado “De qual líder precisamos agora?”, da Revista Você S/A de julho/2020, indica que no contexto da pandemia as habilidades do líder precisam ser mais humanizadas, de coragem e superação.
Frases como “é preciso demonstrar ânimo e ter paixão; ter coragem e resiliência, mas também humanidade e humildade.”; “apoiar um ao outro durante tempos dolorosos. Esse é um tipo de liderança que desejamos, aquela que nutre a própria humanidade”, marcam os argumentos do texto sobre as habilidades do líder nesse momento.
No entanto, a abordagem sobre o líder no texto tem delimitação e limitação. Quanto à delimitação, as opiniões expressas no artigo são de profissionais de grandes empresas. É nesse segmento que se constrói toda a base argumentativa sobre o líder, o que representa parcialmente a realidade. Há que se considerar outros perfis de empresas e líderes, especialmente médias e pequenas empresas.
Com relação à limitação, é inequívoco que ainda levaremos uma longa caminhada em relação aos direitos humanos no Brasil. Nesse sentido, Roberto DaMatta assinala, ao abordar um recente evento de humilhação de fiscais, que a “carteirada é sintoma de uma cultura que tem aversão ao igualitarismo”.
Percebo, porém, que são as habilidades humanas, de coragem e resiliência que afloram com mais avanço no líder atualmente. Contudo, desejo enfatizar que são outras as habilidades do líder que farão diferença na sustentação e progresso das empresas.
Com base em pesquisa realizada com líderes de médias empresas, de 10 empresas 7 enfrentam problemas ou sintomas críticos caracterizados por modo de pensar e agir como: - Desconhecimento de métricas financeiras, de processos e clientes. - Fragilidade das informações para tomada de decisões (85% dos sistemas de informação não tem qualquer utilidade). - Contradições entre pendências e tendências, isto é, o líder torna-se prisioneiro das rotinas e não tem tempo de perceber oportunidades transformadora da empresa. - Incapacidade em gerar diferenciação de produtos e serviços. - Inabilidade no alinhamento entre as equipes e o propósito da empresa. - Baixa maturidade do pensamento estratégico na produtividade das receitas, dos custos e no crescimento lucrativo para enfrentar a pandemia. - Baixo grau de maturidade digital.
Concluindo, é evidente que as habilidades humanas, de coragem e resiliência são fundamentais e considero essas habilidades em que o líder tem mais avanços. Todavia, deve-se lembrar que não se pode tornar o que precisamos ser se continuarmos fazendo as mesmas coisas ou a manutenção dos sintomas críticos. Em consequência, qualquer avanço na evolução do líder precisa estar em sintonia com habilidades para pensar, aprender, agir e mudar os sintomas críticos. Essas são as habilidades centrais para a sobrevivência e o crescimento das empresas no contexto da pandemia.
Rogério Antonio Monteiro - Doutor em Comunicação e Semiótica pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. - Diretor da Innovare Estratégia.
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